O cinema está presente na educação desde a década de 30. Na década de 60, o cinema marcou presença quando, a partir das revistas Cahiers du Cinéma e Screen, versou na política dos autores sobre o enfoque semiológico, e a partir de experiências em associações culturais do tipo cineclubes, círculos de cinema, cineforum, que na ocasião envolviam a projeção de filmes para um público, num projeto educativo e de sensibilização. Os avanços tecnológicos propõem para o século XXI, uma concepção integrada para a educação, usando todos os meios e recursos tecnológicos disponíveis e aplicáveis, como por exemplo o computador, a Internet, a fotografia, o cinema, a televisão, o vídeo, o livro, CD, DVD, e conforme o objetivo pretendido, cada inovação tecnológica integra-se umas nas outras. Por mais que hoje o computador, a Internet e a rede sejam importantes e até mesmo considerados condição de inserção e participação social, a arte-educação pela mídia na educação não se limita a eles, já que o objetivo central do trabalho educativo na escola não é apenas o uso das tecnologias em laboratórios multimídia, e sim que as crianças e os adolescentes atuem nesse e em outros espaços, estabelecendo interações e construindo relações e significações, devendo ser pensado também como forma de assegurar e/ou recuperar a corporeidade, o gesto, o corpo, a voz, a postura, o movimento, o olhar como expressão do sujeito e a relação com a natureza como espaço vital através do qual se constroem sentidos.
Discutindo sobre o ensino com os meios, Jacquinot ressalta sobre a importância de considerar não só a mensagem como a manifestação da linguagem específica e o conteúdo como fonte de informação e saber, mas também como discussão socialmente situada, “sem esquecer que só o dispositivo de utilização pedagógica permite dar a eles um valor formativo” (JACQUINOT, 1999, p. 12). Ela diferencia os gêneros dos produtos midiáticos entre os “autênticos”, que seriam os audiovisuais feitos especificamente com a função de ensinar e aprender, concebidos para serem inseridos no contexto formativo, e os que são utilizados na escola, mas que não foram produzidos para esse fim. Nestes casos, os professores devem ter em mente seus objetivos de formação e utilizar tais meios “sem perder o seu estatuto institucional de ‘meio’, com suas dimensões tecnológica, econômica e sócio-cultural que necessitam sempre ser consideradas no trabalho com os alunos” (id., p. 11). A relação entre o texto e suas condições de existência e usos acontece numa situação comunicativa que é definida por diferentes contextos, explica Casetti (apud MOSCONI, 2005, p. 117): o texto comunicativo (constituído por uma série de discursos); o contexto circunstancial de um texto (constituído por sua colocação espaço-temporal); o contexto existencial de um texto (constituído por horizontes, saberes e práticas sociais); o contexto institucional de um texto (âmbito institucional); o contexto transtextual (referentes textuais); e o contexto de ação (atores, estados psicológicos e ações). A natureza plural do texto é composta de discursos que constituem a situação comunicativa, e o contexto também comunica. Por exemplo, na instituição escolar o filme vai ser mediado por diversos fatores, pois “a instituição assegura a sintonia entre emissor e receptor, mas regula também a sua distonia” (CASETTI, 2004, p. 282). Assim, um filme produzido para o cinema comercial e consumido como recurso didático assemelha-se a um mesmo objeto que muda de pele, pois uma ficção espetacular pode se tornar um documento de reflexão se for trabalhada em dois espaços sociais diferentes relativos ao espetáculo e à escola, como ressalta o autor. O contexto institucional atua a partir de regras heterogêneas, comportamentais, éticas e sociais quanto ao modo de assistir e de fazer cinema. Na relação cinema na escola, texto e contextos se inter cruzam e o texto fílmico torna-se um “dispositivo que opera a partir de uma rede de saberes sociais” (EUGENI, 1999, p. 7). Os saberes devem ser entendidos de duas maneiras: um saber-objeto e um saber instrumento. O primeiro diz respeito aos conhecimentos, e o segundo diz respeito às competências. Eugeni distingue ainda quatro áreas de saberes sociais: saber histórico (conhecimento da história e da dimensão coletiva do agir em dado momento histórico); saber privado (conhecimentos e competências para agir na dimensão cotidiana da existência); saber textual e intertextual (competências e conhecimentos derivados de textos de vários gêneros: livros, revistas, rádio, cinema, televisão); saber metatextual (conhecimentos e competências que orientam a relação do sujeito com os textos: cânones, rituais de fruição, competências tecnológicas específicas necessárias ao consumo, postura interpretativa e crítica, etc.). E é nesta rede de saberes que o cinema como instrumento e objeto da ação pedagógica pode atuar na construção da experiência da significação.
Alain Bergala defende a presença da arte na educação enfatizando que a escola deve ser um lugar de encontro com o cinema como arte, pois entende o filme como “traços de um gesto de criação” (2002, p. 22). Ele argumenta que os filmes-arte possibilitam um confronto do aluno com uma forma de alteridade a qual este não teria acesso noutro espaço, e as escolas devem propor alternativas a isso mostrando o que as leis do mercado tornam cada vez mais difíceis. Nessa perspectiva, sua “hipótese cinema” envolve uma relação entre a abordagem crítica, a “leitura” de filmes e a passagem à ação realização.
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